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Urbanismo e Cidade: Aliados ou Opostos?

O termo “urbanismo” passou a englobar uma grande parte do que diz respeito à cidade, obras públicas, morfologia urbana, planos urbanos, práticas sociais e pensamento da cidade, legislação e direito relativo à cidade.

Na Idade Média, embora imersa em um ambiente profundamente religioso, são as autoridades leigas que estabelecem um domínio no espaço urbano. A partir da Renascença, os fundamentos urbanísticos autônomos se encontram colocados, mas a ruptura com o passado não está de fato consumada.

De acordo com o Gráfico 01, é a Revolução Industrial , com o inchaço populacional urbano, que forma o urbanismo moderno, com progressos técnicos e científicos a partir do séc. XVIII, provocando uma rejeição efetiva das concepções tradicionais da cidade e utilizando como recursos a utopia.


Gráfico 01: O sucessivo crescimento populacional mundial




FONTE: U.S. Census Bureau (2002)



Nos países onde ocorre o progresso técnico e o aumento da produtividade do trabalho, acarreta um aumento da produção global, o que possibilita o crescimento demográfico e a elevação do nível de vida.

Paralelamente, a estrutura da população ativa se transforma. Enquanto no início do séc. XIX todas as nações eram ocupadas em sua maioria no setor da agricultura, nos países industrializados ocorre uma fundição considerável da agricultura com o setor da indústria e serviços. Posteriormente, em função de um novo progresso da produtividade da indústria, o secundário (indústria) diminui por sua vez, em benefício do terciário (serviços), que é o grande beneficiário do desenvolvimento econômico. Com essa notável mudança da necessidade de agricultores para a economia, todos os excedentes, que exploram as terras menos rentáveis, são obrigados a partir, surgindo assim, o êxodo rural, que transforma esses agricultores, mesmo sem o seu consentimento, em citadinos. A cidade, por sua vez, não está preparada para acolher toda essa população, o que gera a proliferação de cortiços.

Uma série de pensadores repudia a noção tradicional de cidade e elabora modelos que permitem reencontrar uma ordem perturbada pelo maquinismo. É desta pesquisa que nasce a principal corrente do urbanismo moderno, a corrente progressista.

Desde 1901 o arquiteto Tony Garnier elabora um plano da cidade industrial, onde se encontra quase tudo o que está na base do urbanismo atual.

Os "arquitetos racionalistas" constituem, a partir de 1928 um movimento internacional (CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna). Em 1933 os arquitetos do CIAM elaboram um manifesto doutrinal: "A Carta de Atenas", uma carta constitucional capaz de construir concretamente um futuro melhor para as cidades.

O modelo progressista fundamenta-se na análise das funções urbanas acompanhadas de zoneamento: habitação, trabalho, lazer. A circulação é concebida como uma função distinta, independente em relação às edificações, com diferenciação de vias segundo velocidades.

O esquema urbano é concebido para o homem-padrão. Em qualquer lugar do mundo. Tanto para as grandes como para as pequenas cidades. Qualquer que seja o regime político ou o nível de desenvolvimento econômico. Como resultado esperado, o modelo urbanístico é amplamente contestado.

Um urbanismo desumano. Esta é a principal crítica endereçada atualmente ao modelo dominante. Contudo, isto de certa forma é inevitável, devido a evolução econômica e demográfica.

No pós-guerra, na Europa, é necessário construir abundantemente em função das destruições, do crescimento demográfico e do êxodo rural que acompanhava o crescimento econômico e o progresso social. Volta-se para uma produção maciça de habitações sociais. Esse urbanismo, embora sob certo ponto de vista insatisfatório, ao menos assegura à grande massa da população o benefício das principais conquistas da técnica moderna tanto no sanitário quanto no econômico.

Sobretudo a grande culpabilidade do urbanismo progressista é de apresentar a cidade futurista, com seus imóveis coletivos gigantes, formigueiros extremamente confortáveis com inúmeras células habitacionais, como o lugar da felicidade perdida. O grande pecado do urbanismo progressista é ter imposto o ideal não confesso de um universo kafkiano*, à base de espaços desestruturados e de gigantescas "máquinas de habitar", para homens-máquina.

Desde 1961, a socióloga americana Jane Jacobs, mostra que o abandono da rua acarreta o desaparecimento das principais vantagens da vida urbana: segurança, contato, formação das crianças, diversidade das relações. Ela acrescenta que a estrita aplicação do princípio do zoneamento esvazia durante o dia os bairros habitacionais: reina então um sentimento de tédio que reforça a padronização da arquitetura.

É nos países do Terceiro Mundo que o gigantismo urbano se revela mais assustador. Sua característica particularmente desumana resulta do imenso crescimento demográfico do país onde a ciência e as técnicas médicas foram introduzidas artificialmente.

Menos ainda que as cidades europeias do séc. XIX, as cidades do Terceiro Mundo não conseguem acolher as massas humanas que para elas fluem. São rodeadas de imensos subúrbios feitos de favelas. Mesmo Brasília, com um planejamento urbano feito por Oscar Niemeyer, com bairros habitacionais que não diferem dos conjuntos de Singapura, Paris e Moscou, possui suas favelas.

Em algumas destas cidades gigantes não existe nem mesmo eliminação de esgoto e coleta de lixo. Os detritos acumulam-se na periferia em verdadeiras colinas sobre as quais vive um povo miserável e das quais retiram sua subsistência. Trata-se, portanto, no final das contas, de uma situação bastante pior que aquela das grandes cidades ocidentais do séc. XIX.

Na reconstrução da história do urbanismo, são consideradas, na maioria das vezes, duas linhas de hipóteses. A primeira faz referência a tudo aquilo que é externo ao urbanismo, manifestadas pela sociedade, economia, instituições e grupos sociais. A segunda linha, faz referência àquilo que é interno ao urbanismo, conflitos e contradições que se manifestam com o passar do tempo nas cidades.

Os resultados obtidos pelo urbanismo moderno são de um valor discutível, mas de uma amplitude arrasadora: isto se deve não a uma suposta qualidade enquanto ciência, mas às possibilidades geradas pelos meios técnicos que a civilização industrial coloca à disposição dos arquitetos, dos engenheiros e dos urbanistas.



CONCLUSÃO


Devido ao fato de que a urbanização se dá através das cidades e as cidades passam a ser urbanizadas com o decorrer da história, podem ser consideradas aliadas no sentido de se fundirem um no outro.

Porém, ao olharmos pelo sentido dos impactos ambientais, sociais, culturais e econômicos que a urbanização, com o seu rápido e seletivo crescimento, gera automaticamente e gradativamente para as cidades e seus habitantes, esses aliados começam a se adversar em diversas posições, se tornando, assim, opostos.

Cidade e urbanismo são decerto complementares a partir de que, um fator depende do outro para o seu desenvolvimento. Mas como torná-los, nos dias atuais, somente aliados, trazendo para o ambiente e sociedade resultados positivos em suas propostas e soluções?



*kafkiano: Situação indesejada em que um indivíduo, sem o querer, se depara como inserido, ficando com a real impressão de que, enquanto a situação perdura, está vivendo em uma dimensão irreal, em estado de perplexidade podendo, em decorrência, ser levado a uma condição mental totalmente desajustada.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


DIAS DOS SANTOS GONÇALVES; VITÓRIA. Encontros - Reencontros. UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL - Curso de Arquitetura e urbanismo; Trabalho de conclusão de curso. Disponível em: <https://issuu.com/goncalvesarquitetura/docs/encontro_reencontros_-_caderno>



UNITED NATIONS; U.S. CENSUS BUREAU. Time to Successive Billions in World Population: 1800-2050. Global Population Profile, 2002. Disponível em: <https://www.census.gov/prod/2004pubs/wp-02.pdf>.


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